‘Não há só uma maneira de ler a Bíblia’


Ed René Kivitz concedeu uma entrevista ao programa Provoca, da TV Cultura, e demonstrou não se importar com sua expulsão da Ordem de Pastores Batistas do Brasil, reiterando suas afirmações que levaram à exclusão: “Não existe só uma maneira de ler um texto sagrado”

O apresentador Marcelo Tas questionou o líder da Igreja Batista de Água Branca (IBAB) sobre o episódio. Em sua resposta, Kivitz mudou o tom adotado em dezembro de 2021, quando disse que a OPBB não tinha “autoridade”, demonstrando indiferença com a decisão tomada pela comissão de ética da entidade:

“O grupo que hoje governa a denominação Batista no Brasil e a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil tem uma lógica religiosa legítima que eu jugo conservadora, fundamentalista. Eu não me enxergo nessa lógica. Então eles fizeram o que era certo aos olhos deles e eu respeitei”, declarou.

“O grande problema é que não existe só um jeito de ser batista. Não existe só uma lógica interpretativa da Bíblia Sagrada, não existe só uma maneira de você ler um texto sagrado, milenar. O meu horizonte de leitura do Evangelho faz com que o Evangelho esteja em constante choque com a religião organizada, dogmática, moralista, ritualista, excludente. Uma religião anacrônica. Eu critico isso o tempo inteiro, e isso que eu critico me expurgou. É legítimo, é lógico”, acrescentou Kivitz.

Tas insistiu no assunto, questionando o motivo de haver oposição às ideias propostas por Kivitz, que respondeu de maneira evasiva: “Assim como o Brasil hoje está cindido, não tem mais uma zona cinzenta. Ou você é amigo ou é inimigo; ou é de Deus ou é do diabo; é da luz ou é das trevas; também o mundo religioso evangélico está dividido assim”.

Homossexualidade

Uma das polêmicas que levaram à expulsão de Kivitz da OPBB foi sua defesa da prática homossexual como um comportamento que não é reprovado por Deus. Um dos telespectadores o questionou sobre quais seriam os textos bíblicos que embasam a doutrina bíblica sobre a sexualidade. Em sua resposta, citou apenas dois textos:

“O que torna pecaminoso além do Velho Testamento é a interpretação das falas exatamente do apóstolo Paulo. Romanos, capítulo 1, e primeira carta aos Coríntios, capítulo 6, quando ele diz que os homossexuais não herdarão o Reino de Deus. Então também consta do Novo Testamento”, disse Kivitz, omitindo 1 Tessalonicenses 4, carta também escrita por Paulo e Judas 1.7, que reitera a reprovação às práticas sodomitas.

O líder da IBAB argumentou que a Salvação é obra de Cristo, mas omitiu a reprovação bíblica aos pecados: “O homossexual pode ir para o céu? Dentro da melhor compreensão da lógica cristã e da teologia cristã, o que salva não é a sua identidade de gênero, sua orientação de gênero, não é nem mesmo seu sexo. Quem salva é Jesus Cristo. Então eu não posso chegar no céu e dizer assim ‘eu estou salvo porque eu mereci’; ‘estou salvo porque eu sou hétero, cis’. Também eu não preciso ter medo de chegar na porta do céu e dizer ‘que pena que eu não estou salvo porque eu sou homo’. Não preciso, porque o critério de acesso a Deus é Jesus”

“Devo me preocupar com o inferno?”, provocou Tas ao abordar um dos temas que têm sido mais recorrentes nas polêmicas teológicas de Kivitz. Em resposta, o líder da IBAB provocou os evangélicos conservadores: “Não, não se preocupe. Como eu já fui expulso mesmo – se eu não tivesse sido expulso eu tinha que dizer que sim”.

“Meu tio, que não era um homem da fé religiosa, mas toda vez que ele falava de Jesus ele chorava. E eu queria converte-lo, né? Eu queria catequiza-lo, que ele se convertesse para ele não ir para o inferno. Um dia ele me deu um cartão escrito assim: ‘Deus dá ao homem que o procura um jeito de encontrá-lo’. Deus vai te encontrar, ou você vai se encontrar com Ele, se é que já não se encontraram”, disse.

Ao final, Kivitz negou que Cristo seja o único caminho a Deus: “A gente acha que as pessoas só se encontraram com Deus quando chamam Deus do mesmo nome que a gente chama. E às vezes não é assim […] Deus não é muçulmano, Deus não é cristão, não é judeu. Deus é Deus. Não posso admitir que na metade do mundo que não é cristã ou nunca ouviu falar de Jesus não exista uma experiência de Deus”.

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